Dr. Juan Aquino

O Trauma Raquimedular (TRM) é uma lesão grave que afeta a coluna vertebral e a medula espinhal, podendo resultar em consequências devastadoras para a vida do paciente. Neste artigo, você vai entender o que é esta condição, suas principais causas e os tratamentos disponíveis.

Radiografia em Perfil evidenciando Fratura-Luxação Cervical com Trauma Raquimedular (TRM) a esquerda e Ressonância Magnética a direita nas setas vermelhas.

O Que é Trauma Raquimedular?

O trauma raquimedular (TRM) é uma lesão que afeta a coluna vertebral e/ou a medula espinhal, resultante de um impacto externo ou força que causa fratura, luxação, compressão ou outro tipo de dano às vértebras e às estruturas neurais. Esta condição pode levar a alterações temporárias ou permanentes na função motora, sensitiva e autonômica abaixo do nível da lesão.

O TRM pode ser classificado de diversas formas:

  • Quanto ao mecanismo: Trauma fechado (mais comum) ou penetrante
  • Quanto à estabilidade: Lesão estável ou instável
  • Quanto ao nível: Cervical, torácico, lombar ou sacral
  • Quanto à extensão neurológica: Completa (perda total da função abaixo do nível da lesão) ou incompleta (preservação parcial da função)

A incidência global do trauma raquimedular varia entre 10 e 83 casos por milhão de habitantes por ano, afetando predominantemente homens jovens (relação homem:mulher de aproximadamente 4:1).

6 Principais Causas do Trauma Raquimedular

  1. Acidentes de trânsito – Responsáveis por aproximadamente 40-50% dos casos de TRM
  2. Quedas – Especialmente em idosos e trabalhadores da construção civil, representando cerca de 20-30% dos casos
  3. Violência – Incluindo ferimentos por arma de fogo e arma branca, correspondendo a 10-25% dos casos
  4. Atividades esportivas e recreativas – Particularmente esportes de impacto, mergulho em águas rasas e esportes radicais, representando 5-10% dos casos
  5. Acidentes de trabalho – Principalmente em setores como construção civil e indústria
  6. Causas médicas – Como complicações cirúrgicas, lesões por radiação ou patologias que fragilizam a coluna (osteoporose, tumores, infecções)

Fatores de risco que aumentam a probabilidade de TRM incluem:

  • Sexo masculino
  • Idade entre 16 e 30 anos (primeiro pico) e acima de 65 anos (segundo pico)
  • Consumo de álcool e drogas
  • Prática de esportes de alto risco
  • Condições que fragilizam a coluna vertebral

Fisiopatologia do Trauma Raquimedular

O dano à medula espinhal no TRM ocorre em duas fases distintas:

Lesão Primária

Resulta diretamente do trauma inicial e pode incluir:

  • Compressão da medula espinhal
  • Laceração ou transecção
  • Contusão medular
  • Hemorragia intramedular

Lesão Secundária

Desenvolve-se nas horas e dias após o trauma inicial, através de uma cascata de eventos bioquímicos e celulares:

  • Isquemia e hipóxia tecidual
  • Liberação de radicais livres
  • Excitotoxicidade (liberação excessiva de neurotransmissores)
  • Inflamação e edema
  • Apoptose celular

A compreensão destes mecanismos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que visam limitar a extensão da lesão secundária.

Manifestações Clínicas do Trauma Raquimedular

As manifestações clínicas do TRM dependem do nível e da extensão da lesão:

Síndromes Medulares Completas

  • Tetraplegia (ou quadriplegia) – Lesão na região cervical, resultando em perda de função nos quatro membros
  • Paraplegia – Lesão na região torácica ou lombar, resultando em perda de função nos membros inferiores

Síndromes Medulares Incompletas

  • Síndrome medular central – Maior comprometimento dos membros superiores em relação aos inferiores
  • Síndrome de Brown-Séquard – Hemissecção medular com perda motora ipsilateral e sensitiva contralateral
  • Síndrome medular anterior – Preservação da propriocepção com perda de função motora e sensibilidade à dor e temperatura
  • Síndrome do cone medular – Afeta o cone medular (S1-S5), causando disfunção vesical, intestinal e sexual
  • Síndrome da cauda equina – Afeta as raízes nervosas lombossacrais, causando dor radicular, fraqueza e alterações esfincterianas

Outras Manifestações

  • Choque neurogênico – Hipotensão e bradicardia devido à perda do tônus simpático
  • Choque medular – Perda temporária de todos os reflexos abaixo do nível da lesão
  • Disreflexia autonômica – Resposta autonômica exagerada a estímulos abaixo do nível da lesão, causando hipertensão grave (emergência médica)

Diagnóstico do Trauma Raquimedular

O diagnóstico do TRM envolve uma combinação de avaliação clínica e exames de imagem:

Avaliação Inicial

  • ABCDE do trauma – Priorização da via aérea, respiração, circulação, avaliação neurológica e exposição
  • Imobilização da coluna – Fundamental até que se descarte instabilidade
  • Exame neurológico – Avaliação da função motora, sensitiva e reflexa
  • Escala ASIA (American Spinal Injury Association) – Classificação padronizada da lesão medular

Exames de Imagem

  • Radiografia – Avaliação inicial para identificar fraturas e desalinhamentos
  • Tomografia computadorizada (TC) – Oferece detalhes precisos das estruturas ósseas
  • Ressonância magnética (RM) – Exame de escolha para avaliar a medula espinhal e tecidos moles
  • Outros exames – Como mielografia ou angiografia em casos específicos

Tratamentos para Trauma Raquimedular

O tratamento do TRM requer uma abordagem multidisciplinar e pode ser dividido em fases:

Fase Aguda (Primeiras 24-48 horas)

  • Estabilização clínica – Suporte das funções vitais
  • Imobilização adequada – Colar cervical, prancha rígida, etc.
  • Metilprednisolona – Seu uso é controverso, mas pode ser considerado em casos específicos nas primeiras 8 horas
  • Descompressão cirúrgica precoce – Quando indicada, idealmente nas primeiras 24 horas
  • Estabilização cirúrgica – Fixação da coluna para prevenir danos adicionais

Fase Subaguda e Crônica

  • Reabilitação intensiva – Fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia
  • Manejo de complicações – Prevenção e tratamento de úlceras de pressão, infecções urinárias, trombose venosa profunda, etc.
  • Tratamento da dor neuropática – Medicamentos específicos como gabapentina, pregabalina, antidepressivos e Vitamina B12
  • Manejo da espasticidade – Baclofeno, toxina botulínica, fisioterapia
  • Reabilitação vesical e intestinal – Cateterismo intermitente, programas de reeducação intestinal
  • Suporte psicológico, social e ocupacional – Fundamental para adaptação à nova condição

Terapias Emergentes

Diversas terapias experimentais estão em desenvolvimento:

  • Terapia celular – Transplante de células-tronco
  • Estimulação elétrica epidural – Para recuperação de função motora
  • Exoesqueletos robóticos – Para auxiliar na locomoção
  • Interfaces cérebro-máquina – Para controle de dispositivos externos
  • Terapias farmacológicas – Visando promover regeneração axonal

Prognóstico e Reabilitação

O prognóstico do TRM depende de diversos fatores:

  • Nível e extensão da lesão – Lesões mais altas e completas têm pior prognóstico funcional
  • Idade – Pacientes mais jovens geralmente têm melhor recuperação
  • Tempo até o tratamento – Intervenção precoce está associada a melhores resultados
  • Presença de recuperação precoce – Retorno de função nas primeiras 72 horas é um bom indicador prognóstico

A reabilitação é um processo contínuo que visa maximizar a independência funcional e a qualidade de vida. Os objetivos incluem:

  • Prevenção de complicações secundárias
  • Maximização da função residual
  • Adaptação ao ambiente
  • Reintegração social e profissional
  • Melhoria da qualidade de vida

Impacto Psicossocial e Qualidade de Vida

O TRM tem profundo impacto psicossocial:

  • Alteração da imagem corporal e autoestima
  • Mudanças nos papéis familiares e sociais
  • Desafios para reintegração profissional
  • Impacto financeiro significativo
  • Risco aumentado de depressão e ansiedade

O suporte psicológico, familiar e social é fundamental para a adaptação e melhoria da qualidade de vida.

Prevenção do Trauma Raquimedular

A prevenção primária é a estratégia mais eficaz:

  • Segurança no trânsito – Uso de cinto de segurança, capacete, respeito às leis de trânsito
  • Prevenção de quedas – Especialmente em idosos e ambientes de trabalho
  • Segurança em esportes – Uso de equipamentos de proteção, técnicas adequadas
  • Controle da violência – Políticas públicas de segurança
  • Educação – Conscientização sobre os riscos e medidas preventivas

Quando Procurar um Especialista em Coluna

É fundamental buscar atendimento médico de emergência imediatamente após qualquer trauma que possa afetar a coluna vertebral, especialmente se houver:

  • Dor intensa no pescoço ou nas costas após trauma
  • Fraqueza, dormência ou formigamento nos membros
  • Perda de controle da bexiga ou intestino
  • Dificuldade para respirar após trauma
  • Qualquer alteração na sensibilidade ou movimento após um acidente

FAQ sobre Trauma Raquimedular

1. Existe cura para o trauma raquimedular?

Atualmente, não existe cura definitiva para o trauma raquimedular completo. No entanto, avanços significativos têm sido feitos em pesquisas com células-tronco, estimulação elétrica e outras terapias emergentes. Para lesões incompletas, existe potencial de recuperação parcial ou significativa com tratamento adequado e reabilitação intensiva.

2. Quanto tempo dura a reabilitação após um trauma raquimedular?

A reabilitação após um TRM é um processo contínuo que pode durar meses ou anos. A fase inicial intensiva geralmente dura de 3 a 6 meses, dependendo da gravidade da lesão. No entanto, muitos pacientes continuam a apresentar ganhos funcionais por até 2 anos após a lesão, e a manutenção da função adquirida requer terapia contínua ao longo da vida.

3. Pessoas com trauma raquimedular podem ter filhos?

Sim, pessoas com TRM podem ter filhos. A fertilidade feminina geralmente não é afetada pela lesão medular, embora possam ocorrer alterações temporárias no ciclo menstrual. Homens com TRM frequentemente apresentam alterações na fertilidade devido a disfunção ejaculatória e qualidade do esperma, mas existem técnicas de reprodução assistida que podem ajudar, como a eletroejaculação e a aspiração espermática.

4. É possível retornar ao trabalho após um trauma raquimedular?

Sim, muitas pessoas com TRM conseguem retornar ao trabalho, embora frequentemente com adaptações ou mudanças na função. O retorno ao trabalho depende de diversos fatores, incluindo o nível e a extensão da lesão, o tipo de trabalho anterior, a disponibilidade de adaptações no local de trabalho e o acesso a programas de reabilitação vocacional. Tecnologias assistivas e políticas de inclusão têm facilitado cada vez mais a reintegração profissional.

5. Quais são as principais complicações a longo prazo do trauma raquimedular?

As principais complicações a longo prazo incluem: úlceras de pressão, infecções urinárias recorrentes, disfunção vesical e intestinal, espasticidade, dor neuropática crônica, osteoporose e fraturas patológicas, complicações respiratórias (em lesões cervicais altas), disreflexia autonômica, depressão e outras condições psicológicas, e complicações cardiovasculares como hipotensão ortostática e maior risco de doenças cardíacas.



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Dr. Juan Aquino é Cirurgião de Coluna OrtopedistaMédico da Dor no Rio de Janeiro. Tem mais de 10 anos de experiência no tratamento de Dor na Coluna realizando consultas presenciais, por Telemedicina, Ondas de Choque mecânico (TOC), Infiltrações em consultório médico, Rizotomia da Coluna e Cirurgias da Coluna Minimamente Invasivas em Hospitais de Referência no Rio.

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Dr Juan Aquino num Curso Internacional em Miami – Estados Unidos. Curso Fresh-Cadaver no MARC (Miami Anatomical Research Center). Curso de Técnicas Avançadas de Artrodeses e Endoscopia da Coluna Vertebral.

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Referências:

Livros:

  1. Benzel’s Spine Surgery. 4th Edition – Michel Steinmetz, Edward Benzel. Elservier, 2017 
  2. O Exame Físico em Ortopedia. Barros Filho TEP – São Paulo: Sarvier
  3. Neuroanatomia Funcional –  Machado, A. Livraria Atheneu, 2000. 3a Edição

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